Os Dois Trabalhos de Hércules

Em um dia abafado no centro de São Paulo, lá na esquina da Augusta, quando cruza com o Ouvidor, o azul do céu foi rompido por um clarão, e dele desceu um homem que deixou a todos atônitos: alto, forte, bem aparentado e vestindo apenas uma tanga de oncinha estava Hércules da Grécia.

Um pouco confuso com o cenário caótico da cidade ele se dirige a um homem parado à sua frente:

- Sois vós meu primo Teseu?
- Teseu não, Tião, muito prazer.
- Eis que venho a cumprir doze trabalhos como penitência pelos meus atos, estais disposto a me ajudar?
- Opa, se é trabalho estou dentro, um dim dim extra nunca é demais.

Hércules não entendeu direito o que o homem dissera, mas entendeu aquilo como um sim.

Então eis que vê ao longe, descendo a Rua Augusta a cento e vinte por hora, um fusca amarelo e pulou no meio da estrada:

- Eis o Leão de Nemeia, não passará por mim.
- Cê ta louco, mano? - Perguntava um incrédulo Tião.

Hércules em frente ao carro com os braços estendidos, pronto para agarra-lo, e CAPOF! É atropelado e arremessado a uns doze metros do fusca, que escapa sem um arranhão sem prestar socorro. Tião liga para o SAMU e logo uma ambulância chega ao corpo ferido de Hércules e leva-o ao hospital mais próximo.

Acordando na enfermaria, com uma das pernas imobilizadas e o braço enfaixado, Hércules não entendera o que passara. Logo seu corpo dolorido vira-se ao tumultuado corredor e vê passar uma maca com trigêmeos siameses que iam para o centro cirúrgico. Mancando e bambeando Hércules se joga sobre a maca e ameaça:

- Ó Gerião, quem diria que o encontraria apequenado e indefeso, seus dias estão contados!
- Você está louco? - Grita uma enfermeira que o agarra pelo braço e o arranca da maca.
- Reles mortais! Pensais vós serem páreo para o grande Hésrculiamm... - Babando Hércules apaga e é esquecido no corredor do hospital, graças a uma injeção de propofol surpresa feita para conter seu ataque de fúria.

Ninguém dá a mínima para mais um jogado ao corredor do hospital, cena corriqueira que podia ser observada em todos os cantos, e eis que Hércules acaba tendo um despercebido choque anafilático que provocou inflamação e o fechamento de sua traqueia, morrendo ali mesmo, quietinho e desapercebido.

No topo do Olimpo Zeus entra enfurecido em uma sala onde estava o Oráculo de Delfos e Baco bebendo e rindo enquanto uma projeção das aventuras de Hércules passava em sua frente. Zeus, com sua voz de trovão, exclamou irritado:

- Vocês estão loucos? Mandaram ele para outra era e rumo ao desconhecido? O que fazer agora que faleceu?

O oráculo e Baco se abraçaram e foram ao chão às gargalhadas.

- Fica frio chefe - disse Baco - Hades é parça e logo vem aqui beber com a gente. Falamos com ele e trazermos Hércules de volta - E caíram a gargalhar novamente.

Irado, mas sem muito o que fazer, Zeus deixa a sala literalmente faiscando.

Coisa de bêbado.

Copyright © 2016. Rodrigo Chedid Nogared Rossi
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