Faltou luz

O sol já se punha em pleno verão na minha casa de praia quando faltou luz. O desconforto começou a atingir a todos, pois com a falta de vento era praticamente impossível se livrar do calor que fazia parecer que estávamos em uma estufa.

O wi-fi deixou de funcionar, mas enquanto todos se viravam no 3G pra se atualizar no facebook, whatsapp e afins, preferi ficar em meu notebook jogando paciência mesmo e aguardando a luz voltar.

Logo o desconforto se transformou em desespero, a energia parecia demorar uma eternidade para retornar e aos poucos os celulares foram morrendo, o desespero tomava conta, uns choravam copiosamente e tinha até gente em posição fetal chupando o dedo e se embalando ao canto da sala.

De repente uma pessoa com um celular na mão, um cabo de carregamento e um olhar psicopata visava meu notebook. Não demorou para que outros se juntassem em um pequeno apocalipse zumbi que tentava tomar conta de todas as entradas USB do computador. Tentei protege-lo na base da cotovelada, mas alguém mordeu minha orelha e em um golpe vindo de não sei onde caí para trás, acho que fiquei algum tempo desacordado. Quando consegui me levantar e voltar para minha partida de paciência estavam todos felizes e conectados novamente, mas com tudo isso não duraria muito até a bateria do notebook, e por consequência, dos celulares morrerem.

Situação crítica, todos em estado de atenção se entreolhando como se suas vidas corressem risco. Alguém foi lentamente até a porta e a abriu, pegou uma mesa de plástico que já estava amarelada e suas respectivas cadeiras e as colocou na área externa, logo todos se sentaram. Havia alguma iluminação natural e sentei no gramado, ao olhar para cima vi estrelas, mas não estrelas como costumamos ver, havia estrelas tantas quantas não sabia existir. Mas afinal pra que servem tantas estrelas não? A única que me importa é o sol, e que nasça quente para que possamos ir para praia. Vaga-lumes inundavam a paisagem com seu piscar de luzes verdes. Droga, odeio verde, e pra que essa piscação toda afinal?

Então as pessoas começaram a conversar, acreditem, cara a cara! Contando histórias, anedotas e algumas vezes apenas jogando papo fora. Olho no olho! Que absurdo, tô fora.

Alguém teve a infeliz ideia de fazer um churrasco e logo uma pequena festa se estabeleceu, não faltou para que instrumentos musicais pipocassem e rolasse desde samba a Pink Floyd, todos comendo, bebendo, dançando, conversando; comemorando sei lá o quê.

A energia voltou, logo aquela bagunça se desfez e todos puderam ligar seus celulares nas tomadas e retomarem sua vida normal. Liguei meu notebook e tentei, enfim, terminar uma partida de paciência. A normalidade estava restabelecida.

Ufa!

Copyright © 2015. Rodrigo Chedid Nogared Rossi
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