O Resgate na Ilha Proibida

Depois de uma tempestade que varreu parte do litoral a defesa civil estava sobrecarregada. Muitos eram os desabrigados e os que ficaram expostos às águas poluídas da baía, mas de uma maneira geral tudo corria bem pois o alerta de tempestade havia soado no dia anterior e os residentes haviam se preparado, menos um. Antônio decidiu ignorar o alerta pelo fato de o dia nascer ensolarado e partiu com sua lancha para alto mar e já havia vinte e quatro horas desde seu último contato. Sua família entrara em desespero porque seu último pedido de socorro partira próximo do Arquipélago do Coronel.
O Arquipélago do Coronel era um local que ainda causava medo e repulsa entre os habitantes. Um lugar conhecido popularmente como A Ilha Proibida, palco de lendas e teorias da conspiração. Muitos desaparecimentos de fato ali ocorreram, o último e mais famoso do Coronel Dias, que decidiu pesquisar a ilha e acabou nunca mais voltando, sua esposa e filhos foram sequestrados dois dias depois e nunca mais foram encontrados, a repercussão dos fatos foi tão grande que acabou batizando o arquipélago. Dez anos se passaram, desde então ninguém mais se dispôs a pesquisar a ilha e o caso acabou ganhando o status de lenda urbana por parte das autoridades e população.
Depois que o tempo acalmou uma força de resgate foi montada. Três bombeiros se dirigiriam à ilha em um helicóptero de resgate para tentar localizar a lancha e Antônio pois ainda restavam esperanças de que estivesse vivo. A Ilha do Coronel ficava relativamente distante da costa, cerca de vinte minutos de voo em um helicóptero, não era rota de aeronaves e quase ninguém se arriscava a sobrevoar a área. Chegando perto do local a equipe de resgate contata o comando da missão.
- Localizamos uma lancha, mesmo modelo da que se perdeu ontem, está ancorada bem próxima a uma praia da ilha.
- Verifique se há algum ponto em que possam pousar e iniciem as buscas.
Após isso nada, depois de dois dias de tentativas de contato o caso foi encerrado. Um enterro simbólico com honras foi providenciado aos três tripulantes: Marcos, o piloto, e os paramédicos Francisco e Charles. Durante o funeral mais uma má notícia, um comandante da polícia informa ao chefe dos bombeiros que a família de Antônio desapareceu sem deixar pistas, a investigação continuaria e um esquema especial de segurança foi montado para as famílias de Antônio, Francisco e Charles. O resultado se foi inútil, mesmo com vigilância as famílias dos três bombeiros também desapareceram.
Foi a gota d’água. Governos se uniram para tentar acabar com a ameaça que os permeava. Tentaram visualizar a ilha com satélites, mas naquela região tudo aparecia borrado e desfocado. Decidiram deixar de lado qualquer dilema ético e iniciaram um programa secreto chamado Corvo Negro. Vasculharam clínicas de fertilidade e através de seleção e manipulação genética tentaram formar um ser humano preparado para batalha como nenhum outro, uma verdadeira máquina de guerra. Nascido de uma barriga de aluguel foi alimentado, educado e treinado em ambientes altamente controlados, até estar pronto para invadir a ilha. Sem identidade, sem vontade própria, era um programa secreto e um codinome: Corvo Negro.
Em uma manhã partiu em um jato preparado especialmente para ele e para essa missão. Voando baixo e lentamente avistou que um pouco mais ao longe na ilha havia uma pista de pouso e algumas pessoas acenando por perto, então ele inicia a manobra de descida e pousa no local.
- Comando, acabo de pousar na ilha. Sem sinais de hostilidade, vou entrar no território.
- Pode ser uma armadilha, mantenha contato constante.
- Boa tarde senhor! - Diz um habitante da ilha
- Iniciando protocolo de segurança, não avance.
- Se acalme que não estou armado, qual o seu nome?
- Isso é segredo, então você é refém? Quem comanda essa ilha?
- Ninguém aqui é refém, rapaz. Prazer, Rafael. Venha que lhe apresento o local senhor segredo.
Os dois andam na ilha entre uma densa vegetação até chegar a uma praia paradisíaca. O local era muito diferente da cidade, pois possuía grande harmonia entre tecnologia e natureza, tinham tudo o que a Terra poderia oferecer e tudo o que o Homem poderia fabricar.
- Sabes trepar em um coqueiro?
- Nem trepar e nem o que é um coqueiro.
- José, um coco para resfriar o nosso amigo aqui.
José, subindo rapidamente no coqueiro, corta um coco e o lança a Rafael.
- Pois prove.
- Não é permitido provar de plantas, frutos ou derivados que nascem fora de ambiente controlados devido a contaminação do solo. – Corvo Negro dá um tapa no coco, derrubando-o.
Ao ver um peixe ser assado em uma grelha desespera-se e derruba tudo fazendo a maior bagunça.
- Não é permitido se alimentar de criaturas marinhas devido ao nível de contaminantes nos mares.
Então coleta uma amostra da água do mar, mas não encontra toxidade ou índice elevado de impurezas. Corvo Negro agora estava confuso. A pedido de Rafael senta-se à beira-mar e prova um delicioso peixe recheado com camarões acompanhado de água de coco, nada parecido com qualquer coisa que já havia provado.
-Não entendo uma coisa. Vocês são pacíficos, possuem uma bela comunidade aqui, conseguiram progredir conciliando ciência e natureza, mas capturam os que por aqui passam e raptam suas famílias, por que?
- Não há captura, procuramos acolher todo mundo, e todos são livres para voltar se quiserem, e não raptamos a família de ninguém, elas são trazidas escondidas a pedido dos próprios familiares, e também possuem liberdade para ir embora quando quiserem.
- Até hoje quantos deixaram a ilha?
- Ninguém que eu saiba.
- Você diz isso mas romperam toda minha comunicação.
- Precaução, temos que nos proteger, mas se você for para seu avião verás que já não há impedimento algum.
Indo à pequena base aérea local ouvem-se os gritos desesperados vindos do rádio do avião:
- Corvo Negro, na escuta? Corvo Negro, responda
- Sou livre para ir?
- Claro, mas você nos conhece agora, sabes que se um dia pretenderem nos atacar temos plenas condições de nos defender. Mas se quiseres ficar com certeza podemos conseguir um bom emprego pra você na área de segurança, dado o seu conhecimento.
- Corvo Negro, responda!
E Corvo Negro sobe em sua aeronave. Desliga o rádio e as baterias.
- Me ensina a trepar em um coqueiro?


Copyright © 2015. Rodrigo Chedid Nogared Rossi
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