Elementar

Um corpo estendido à beira do asfalto, manchas de sangue ainda fresco corriam pela calçada, um beco escuro em uma noite nublada, nada de anormal para o centro da cidade. A polícia não havia chegado ao local.

Altivo, às baforadas de seu cachimbo chega silenciosamente à cena do crime Sherlock. Silenciosamente examina o corpo, um buraco de bala que atravessara o peito havia matado o infeliz. Ele levanta o defunto e encontra a bala que fizera o estrago parcialmente destruída. Deduz que o tiro não foi dado de muito longe, talvez da entrada do beco, então tenta traçar uma linha imaginária do trajeto do projétil com base na perfuração e na localização do corpo. Caminhando lentamente encontra a cápsula, a examina e chega a conclusão que pertencia a uma 9mm. Fica de pé, aponta as mãos vazias como se empunhasse uma arma em direção à vítima, resmunga algo e começa a fazer desenhos e anotações em uma caderneta.

Não havia sinal de briga no local e a carteira do morto estava intacta, inclusive cheia de dinheiro. Uma marca atrás do pescoço denunciava o provável motivo do crime, algo havia sido arrancado de seu pescoço antes da morte. Sherlock esfrega os dedos para determinar a extensão da lesão e conclui ser de uma corrente firme e grossa, provavelmente uma joia.

Ele deixa a cena do crime fazendo mais anotações e desenhos na caderneta, incluindo o possível formato da corrente que foi roubada. Foi para casa dormir.

Acordado ao amanhecer com policiais em sua porta fica confuso, é algemado e levado para a delegacia. Em uma sala de interrogatório é questionado sobre o assassinato e fica surpreso em saber ser um dos principais suspeitos. Watson, agora na condição de seu advogado, entra na sala do interrogatório e o policial deixa o local.

- É Sherlock, parece que estás perdendo o jeito da coisa.
- Mas como pode isso? Por que querem me prender?
- Checaram seu caderno e viram o desenho da corrente que a vítima usava no dia do assalto e um gráfico com o ocorrido, o estão acusando de ter premeditado o crime.
- Mas eu fui lá para investigar!
- E deixou suas digitais na cápsula, além do que foi encontrado seu DNA em tecido cutâneo no pescoço do defunto e fragmentos de tabaco que combinam com o que você usa em seu cachimbo. E mais, uma câmera o filmou parcialmente e flagrou você em posição de disparo a determinada hora.
- Na minha juventude não havia nada disso, qual o tamanho da minha encrenca?
- Grande, eu diria enorme.
- Acho que está na hora de me aposentar.
- Elementar meu caro Sherlock, elementar.

Copyright © 2016. Rodrigo Chedid Nogared Rossi
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